Crónica de um Banco de Jardim


Foto: Pedro Baptista


Está lá todos os dias.
Mesmo banco, mesma hora.
Não se sabe se espera alguém… ou se já se habituou a que ninguém venha.

É um banco de jardim como tantos —
de ferro forjado com tinta gasta,
meio torto, com um parafuso que range,
como se também ele quisesse contar a sua história.

À sua frente, um pequeno lago onde nem os patos se demoram,
e uma árvore que já viu mais folhas do que promessas cumpridas.

O homem chega com um jornal dobrado debaixo do braço,
mas raramente o abre.
Olha-o como quem olha uma velha fotografia —
já sabe o que está lá, e já não lhe interessa muito.

Às vezes cruza o olhar com quem passa,
e ensaia um aceno tímido —
um gesto quase fora de moda.

Outras vezes, fala sozinho.
Ou parece falar.
Talvez treine argumentos para discussões que já não vai ter.
Ou fale com alguém que só ele vê.
(Às vezes os fantasmas são mais fiéis do que os vivos.)

Uma criança aproximou-se uma vez e perguntou-lhe:
— O senhor é o guarda do banco?

Ele riu-se.
— Não. Sou o inquilino do silêncio.


Todos os jardins têm um banco assim.
E todos os bancos guardam alguém que já foi notícia,
mas agora se limita a virar as páginas em branco do tempo.

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