As Prateleiras, os Suportes e os Braços Cruzados



Há um momento na vida de qualquer homem que se quer útil em casa: montar prateleiras.
Parece simples — dois suportes na parede, uma tábua em cima, equilíbrio, satisfação.
Mas a realidade tem outro guião.

Primeiro, os suportes. Medidos, furados, aparafusados.
Depois, as tábuas. Compridas demais.
Assentam num lado e abanam no outro — como se tivessem vontade própria.
É uma coreografia desequilibrada entre a madeira, a parede e a minha sanidade.

E ali estou eu, de berbequim numa mão, prateleira na outra e o sangue a subir-me à cabeça, quando olho para o lado…

E vejo dois espectadores: mulher e filho, de braços cruzados, estilo estátua de sala de espera.

Pergunto:
— Mas por que raio é que não me ajudam?

Resposta em uníssono:
— Porque não disseste que querias ajuda.

Eu, espantado:
— Mas não se vê logo o que é preciso fazer?

O filho, com sabedoria de almofada digital:
— Não, pai. Se queres ajuda, tens de pedir… com jeitinho.

Respirei fundo.
Contive a vontade de usar a prateleira como remo simbólico.

— Se voltas a falar assim comigo, levas um murro na cabeça.

Ele riu. A mulher disse “Pedro, por amor de Deus.”
E a prateleira… continuou a abanar.


Moral da história:
Peça ajuda com jeitinho. Mas certifique-se de que há alguém com cérebro do outro lado da prateleira.

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