Do Príncipe ao Caixote — Tratado Sobre a Manipulação Silenciosa
Há quem pense que a manipulação é um jogo sujo.
Um acto
vil. Um abuso de poder.
Mas eu, depois de tantos anos de
convivência civilizada (ou quase), cheguei à conclusão de que a
manipulação, quando bem feita, é arte.
E como toda a
arte… raramente é reconhecida a quem a pratica.
Ontem, por exemplo, dei por mim a levar o lixo à rua.
Não
porque mo tivessem pedido.
Nem sequer porque estivesse a
transbordar.
Não.
Levei-o com aquela sensação interior
de missão cumprida, como quem diz:
“Sim, isto fui eu que decidi.”
Mas foi só a meio do caminho — já o saco balançava no braço
e o cheiro começava a sugerir urgência — que percebi.
Enganado
outra vez !!!
♟️ Uma jogada perfeita
Começou com um olhar vago na direcção do balde.
Depois um
suspiro breve — não teatral, realista.
Seguiu-se
um comentário, lançado ao vento, como quem diz uma coisa qualquer:
“É impressionante como o cheiro do peixe se entranha…”
(Pausa. Silêncio. Continuação da leitura da revista. Imperturbável.)
Eu, claro, reagi por instinto. Levantei-me.
Pensei que estava
a agir por livre vontade.
Mas não.
Estava dentro de uma
estratégia tão bem urdida que fazia Maquiavel parecer um escuteiro
desastrado.
🧠 Uma mente brilhante ao serviço do quotidiano
Há quem diga que Garry Kasparov previa dez jogadas à frente no
xadrez.
Pois bem — há quem o faça no casamento.
Com a
mesma frieza táctica, a mesma precisão… e o mesmo objectivo
final: vitória sem confronto.E depois há o toque
David Copperfield:
quando percebes o truque… já estás fora
de casa, de chinelos, com o saco na mão.
📌 Conclusão?
A manipulação bem feita não é abuso.
É engenharia
emocional avançada.
É conseguir que o outro faça o
que é preciso acreditando que foi ideia dele.
É
transformar um caixote do lixo em conquista pessoal.
E, acima de
tudo,
é viver num equilíbrio tácito entre o
conformismo, o cansaço e o jeito que dá não discutir.
No fundo, há coisas que se fazem não porque se quer, mas porque é mais rápido, mais fácil, ou simplesmente porque já se aprendeu que resistir dá mais trabalho.
E às vezes, ser manipulado com elegância é preferível a entrar em guerra por causa de um saco malcheiroso.
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