O Efeito Borboleta Aplicado às Cadeiras

O zelador chamava-se Silvério.
Sofria de TOC, mas não daqueles discretos — era um TOC cósmico, com pretensões metafísicas.
Acreditava, piamente, que se uma cadeira ficasse ligeiramente desalinhada em Lisboa, poderia provocar um colapso de nervos num executivo em Tóquio.

Sim, era esse o nível.

Dizia:

“Cada cadeira que empilho mal aqui pode gerar uma onda de desequilíbrio no outro lado do mundo. Primeiro um tropeção. Depois um grito. Depois um divórcio. Tudo por culpa de um encosto torto.”

A teoria dele, inspirada no velho efeito borboleta, era simples:

  • Uma asa bate em Pequim

  • Um furacão levanta-se no Texas

  • Uma cadeira desalinha-se em Lisboa

  • E uma senhora cai da bicicleta em Helsínquia.





A empresa deixava-o em paz.
Sabiam que ninguém empilhava como ele.
O ritual era semanal: madrugada de segunda, luz de néon, silêncio, e Silvério a alinhar 28 cadeiras com precisão quase militar.

Mas um dia, alguém moveu uma cadeira meio centímetro para a esquerda.
Por brincadeira.
Ou maldade.

Nessa noite:

  • Um cargueiro encalhou no canal do Panamá

  • Um corvo entrou numa conferência da ONU

  • E um político importante escorregou em manteiga no refeitório de Bruxelas

Silvério viu as notícias.
Não disse nada.
Limitou-se a abrir a porta da sala 7, olhar para o desalinho mínimo da cadeira 17…
E suspirar.

Desde então, passou a empilhar duas vezes por semana.

Só por segurança.

✅ Conclusão:

O caos, às vezes, começa com uma asa.
Outras vezes, com uma cadeira.

E Silvério continua a empilhá-las.
Não por mania.
Mas por instinto de sobrevivência universal.



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