Os Que Gritam Juntos e os Que Pensam Sozinhos


Nas últimas eleições em Portugal, confirmou-se uma velha verdade:
A direita sabe unir-se para ganhar.
A esquerda sabe dividir-se para ter razão.

Enquanto os eleitores de direita concentram o seu voto num único objectivo — “derrotar a esquerda” —, muitos nem conhecem o programa do partido em que votam. Votam por impulso, por medo, por desconfiança, ou simplesmente por cansaço.
Não votam “a favor de” — votam “contra”.

Do outro lado, a esquerda insiste em discutir entre si.
Cada partido, cada facção, cada subgrupo sente que é guardião de uma verdade mais pura, mais justa, mais moral.
E nessa luta interna de egos, ideias e linguagens rebuscadas, esquecem-se das pessoas reais.
Daquelas que acordam cedo, pegam no transporte, contam moedas no fim do mês e ouvem falar de “sustentabilidade emocional das narrativas sociais” como se fosse outro planeta.

A direita junta-se — mesmo sem acordo de fundo.
A esquerda separa-se — mesmo partilhando o mesmo chão.



❝Não é apenas uma questão de ideologia.
É uma questão de cultura política.❞

Falta à esquerda, muitas vezes, a capacidade de traduzir os seus ideais em gestos concretos, frases simples, actos visíveis.
E falta à direita, muitas vezes, a capacidade de reflectir criticamente sobre as consequências dos seus actos.
Mas a primeira perde eleições. A segunda ganha poder.


Conclusão amarga:
Quando os que gritam juntos vencem os que pensam sozinhos, o resultado raramente é justo.
Mas é previsível.

🔍 1. A responsabilidade da comunicação social

A televisão, a rádio e os grandes jornais já não informam — escolhem ângulos.
Tornaram-se actores políticos disfarçados de cronistas neutros.
E, na ânsia por audiência e “engajamento”, simplificam até à banalidade:

  • Reduzem debates complexos a frases-feitas.

  • Dão tempo de antena igual a verdade e mentira — em nome de uma “imparcialidade” que é, na prática, desinformação.

  • Criam inimigos fáceis (funcionário público, imigrante, professor, sindicalista) que servem de distracção.

Enquanto isso, os partidos de direita usam essa máquina com mestria, repetindo frases curtas, imagens de indignação, promessas fáceis.
A esquerda, por seu lado, continua a dar entrevistas em tom de seminário.


🗳️ 2. A abstenção como acto de desistência

Muitos dos que mais sofrem já não votam.
Não por desinteresse, mas por desilusão profunda.

Sabem que a esquerda os ouve — mas não os resolve.
Sabem que a direita os ignora — mas parece agir.

“Mais vale um político que me despreze mas construa uma estrada, do que um que me compreenda e me deixe à chuva.”

A esquerda tem moral, mas falta-lhe eficácia.
A direita tem eficácia… mesmo sem moral.


🌍 3. Paralelos históricos e internacionais

Este cenário não é novo — nem só português.
Vejamos três exemplos:

🇮🇹 Itália – A ascensão de Giorgia Meloni

Uma direita unificada e populista venceu graças a um discurso direto e emocional.
A esquerda apareceu dividida em múltiplas listas e sem um projecto comum.

🇩🇪 Alemanha nos anos 30

A social-democracia e a esquerda comunista recusaram alianças — e Hitler chegou ao poder com minoria, mas com estratégia unificada.

🇧🇷 Brasil – Bolsonaro

Foi eleito com apoio de sectores evangélicos e conservadores, que se uniram num objectivo único: derrotar “a esquerda”.
Mesmo sem compreenderem o programa.




✍️ Conclusão :

Quando a direita vence, não é (apenas) pelas suas ideias.
É pela sua capacidade de se concentrar num objectivo.
A esquerda perde não por falta de razão, mas por excesso de razão — mal distribuída.
E o eleitor comum?
Continua a viver entre promessas rotas e slogans em eco.
Esperando que, um dia, alguém o ouça sem precisar de lhe explicar o que é “a sustentabilidade estrutural da justiça fiscal em ambiente pós-austeritário”.


A Esquerda Pensa. A Direita Ganha.


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