Da Semente ao Abismo: Lições de Israel para o Presente Português
Quando os discursos de ódio deixam de ser marginalizados e passam a ser legitimados nas urnas, abre-se caminho a uma transformação profunda - e perigosa - na sociedade. Este artigo traça um paralelo entre os primeiros sinais de violência de extrema-direita em Portugal e o percurso de radicalização vivido por Israel desde o assassinato de Yitzhak Rabin. Um alerta firme e urgente para quem ainda acredita na democracia como espaço de empatia, justiça e contenção.
A história ensina, mas só a quem quer escutar. O que se passa hoje em Portugal - com a ascensão eleitoral da extrema-direita e os primeiros sinais de violência social legitimada por discursos de ódio - não é um fenómeno isolado nem inédito. É, antes, o prenúncio de algo maior e mais perigoso, que outros países já viveram e que deixou marcas profundas. Israel é um desses exemplos.
O começo parece sempre "apenas" retórico
Em Portugal, multiplicam-se os episódios de agressões verbais (e até físicas) contra imigrantes, refugiados e voluntários de organizações humanitárias. Tudo em nome de uma retórica que se apresenta como "bom senso", "patriotismo" ou "defesa da ordem". Mas há um padrão histórico nisto: a violência começa nas palavras e instala-se com os silêncios cúmplices.
Israel, após o assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 por um extremista judeu, iniciou esse mesmo caminho. Rabin representava uma possibilidade de paz com os palestinianos. A sua morte não foi apenas o fim de um homem: foi o colapso de uma esperança. E o que veio depois foi o crescimento constante de uma direita cada vez mais nacionalista, religiosa e militarista.
A violência normaliza-se
O discurso de ódio, uma vez legitimado nas urnas, entra nas instituições. É reproduzido por comentadores, aceite nos cafés, promovido nas redes sociais. Em Portugal, os sinais são já visíveis: a fronteira entre discurso político e discurso de ódio está a esbater-se. E quando os tribunais, os media e os partidos tradicionais não reagem com firmeza, esta linguagem torna-se nova norma.
Da Semente ao Abismo: Lições de Israel para o Presente Português
Em Israel, ao longo de décadas, a violência contra palestinianos deixou de ser exceção para se tornar rotina. Colonos armados, checkpoints humilhantes, prisões arbitrárias - tudo em nome da segurança nacional. E hoje, perante os olhos do mundo, vemos civis a serem mortos por tentarem apanhar sacos de farinha em Gaza. Hospitais bombardeados. Crianças soterradas sob escombros. A fronteira entre a defesa e o massacre foi cruzada. Para muitos, trata-se já de um genocídio em curso.
O perigo da indiferença
O caso de Israel mostra-nos que a radicalização pode acontecer dentro de um sistema democrático, aos poucos, passo a passo. Sem necessidade de golpes de Estado. Basta a erosão dos limites éticos, a normalização da brutalidade, a indiferença perante o sofrimento do outro.
Portugal não está - ainda - nesse ponto. Mas a semente está lançada. E ignorar os primeiros sinais, relativizar os discursos de ódio, tolerar as primeiras agressões, é abrir caminho para algo muito mais sombrio .
A história de Israel não deve servir como arma de retórica, mas como espelho do que acontece quando uma sociedade abdica da empatia e da moderação em troca de identidade e força.
Se não quisermos chegar ao ponto de matar quem luta por um saco de farinha, o momento para agir é agora.
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