O Peso do Silêncio

A prisão era de segurança máxima, num país distante, onde a vida se pagava com a morte. Eram seis, em celas individuais, alinhadas num corredor que, à hora marcada, cada um teria de atravessar para se deitar naquela cama travestida de maca hospitalar — com tubos, máscaras e a agulha letal.

Não havia vozes. Não havia olhares. Cada um encerrado no seu cubículo, dentro de si próprio. O tempo era feito de silêncio. À lentidão da justiça, à burocracia, aos recursos, somava-se o sadismo ocasional de um carcereiro que, ao recusar qualquer previsão, mantinha viva a angústia do momento fatal.

Numa noite, a luz do corredor acendeu-se fora de hora. A grade da cela mais distante rangeu. O condenado saiu — mudo como sempre, sem expressão, sem emoção — ladeado por dois guardas. Atrás dele, o corredor voltou a fechar-se.

Passado algum tempo, regressaram só os dois. Em silêncio.

E naquela cela, agora vazia, o silêncio era o mesmo. Mas nos outros cinco, ele ganhou peso. Um peso estranho, sem nome, sem explicação.
Ninguém falou. Ninguém se mexeu. Mas todos sentiram.

Nada mudara. E, no entanto, tudo estava diferente.



Naquele corredor estreito, feito de aço e esquecimento, a ausência de um tornou-se a presença de algo maior.
Porque só a falta revela o vínculo.
E os cinco, que nunca se tocaram, nem se olharam, souberam, sem saber, que nunca estiveram sós.
A morte do outro — silenciosa, invisível, inevitável — devolveu-lhes a noção de existência partilhada.
Como se, naquele vazio absoluto, restasse ainda uma última forma de humanidade:
a consciência de que, mesmo no fim, somos mais do que um só.

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