Zapping, Gata e o Fim do Seráo


Depois do jantar, sentamo-nos os dois na sala para ver um filme ou uma ou duas séries. A gata instala-se no meu colo, como já é hábito. Um ritual silencioso, quase cerimonial.

Vemos qualquer coisa. Às vezes bom, às vezes apenas passável. Mas juntos.
E quando começam a aparecer os créditos finais — os nomes dos actores, dos técnicos de luz, dos duplos e dos que seguraram o microfone — a gata levanta-se.
Sem alarme.
Levanta-se e salta para o chão.
Sabe que acabou o serão.
Sabe que eu me vou levantar a seguir. E ela vai comigo.

Não porque eu queira ir.
Mas porque ela quer ficar na sala — sozinha — a ver aquilo que para mim é o início do surrealismo doméstico: os royalty shows, concursos de remodelações, jantares de celebridades, casamentos de desconhecidos.

É aí que começa o zapping.
O zapping dela.
Ou melhor: o dela com o comando na mão e eu a tentar não me irritar.

“A notícia de última hora dá conta de um atentado em…” ZAP
“Investigadores anunciaram uma descoberta revolucionária…” ZAP
“O jogo da taça foi ganho por…” ZAP

Nada dura mais de sete segundos.
Nem a tragédia, nem a ciência, nem o desporto.
Tudo cabe no gesto de um dedo apressado.
ZAP. ZAP. ZAP.

É o sinal.
Levanto-me.
A gata levanta-se também.
E lá vamos os dois, em silêncio, para o escritório.

Eu para o computador.
Ela para a manta enrolada junto à estante.

No fundo, é ela quem percebe melhor o fim dos serões.
E dos episódios.



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