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A mostrar mensagens de agosto, 2025
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  O paradoxo económico dos incêndios em Portugal A floresta continua a ser tratada como um problema sazonal, quando deveria ser vista como um ativo estratégico nacional. Enquanto persistirmos na lógica do combate, o país continuará refém de um ciclo de destruição e reconstrução. Todos os verões, o país assiste ao mesmo drama: milhares de hectares de floresta consumidos pelas chamas, populações em risco, património natural e humano devastado. Apesar dos avanços no combate, Portugal continua a enfrentar incêndios de grandes dimensões com uma frequência alarmante. O problema não é apenas climático ou acidental: é estrutural. O abandono rural, consequência direta do êxodo populacional para as cidades, deixou vastas áreas agrícolas e florestais sem manutenção. A fragmentação da propriedade, com milhares de pequenos donos sem meios para gerir o território, agrava a situação. Resultado: um país coberto de combustível pronto a arder. Antes da década de 50 do século passado, quando a lig...
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  Entre a Ucrânia e Gaza: a balança desigual da justiça A forma como o mundo aborda a guerra e a verdade exige uma reflexão séria. As recentes declarações de Vladimir Putin sobre as supostas origens do conflito na Ucrânia ilustram como a narrativa pode ser distorcida para justificar o injustificável. Ao invocar a NATO, o Maidan, perseguições à população russa e até o Batalhão Azov, Putin constrói uma teia de meias-verdades. Embora existam fragmentos de realidade nas suas palavras, a ideia de genocídio ou de perseguição sistemática não encontra suporte em relatórios credíveis de organizações internacionais. É um discurso ao serviço da propaganda, não da verdade. Ainda assim, mais revelador do que a retórica russa é a forma desigual como a comunidade internacional reage a diferentes guerras. No caso da Ucrânia, a invasão é corretamente classificada como violação da soberania de um Estado e deu origem a uma resposta coordenada, com sanções duras e abrangentes. Já em Gaza, a destruiç...
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  Reconhecer a Palestina e armar Israel: a contradição que alimenta a impunidade Nos últimos meses, vários governos europeus anunciaram a intenção de reconhecer formalmente o Estado da Palestina . Para muitos cidadãos, esse gesto é visto como um passo importante na defesa da justiça e da paz no Médio Oriente. Contudo, essa decisão política esbarra numa contradição gritante: os mesmos países que falam em “dois Estados” continuam a fornecer, de forma direta ou indireta, armas e componentes a Israel . A situação é paradoxal. Como pode um Estado reconhecer a Palestina ao mesmo tempo que ajuda a destruir o seu território e a sua população? Ao fornecer armas a Israel, esses países não estão a proteger a viabilidade de uma Palestina independente — estão, pelo contrário, a minar as condições mínimas para a sua existência. O caso da Alemanha é exemplar. Berlim anunciou restrições, mas aumentou exponencialmente as exportações militares para Israel após 7 de outubro de 2023. A Itália de...
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  A Sede como Arma de Guerra: A Vergonha da Impotência Internacional "A comunidade internacional reconhece o uso da água como arma, mas as ações concretas para travar esta prática têm sido insuficientes." Esta frase resume, na sua dura realidade, a hipocrisia e a paralisia do mundo perante um crime em curso: a utilização deliberada da sede como arma de guerra contra a população de Gaza. Não estamos perante uma mera consequência colateral de um conflito, mas sim diante de uma estratégia consciente e sistemática. Esta tese tem sido denunciada por organizações humanitárias como a Oxfam, a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, e confirmada pelos relatores da ONU. A privação deliberada de água potável não é apenas uma violação grave do direito internacional humanitário — é um crime de guerra e, nas circunstâncias atuais, pode ser considerado um crime contra a humanidade. O Reconhecimento Sem Ação: A Cumplicidade por Omissão A comunidade internacional está a par da situaçã...
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  A Falsificação da “Mensagem do Telegram” August 12, 2025  /  Pedro Baptista   /  Edit A mentira que mata duas vezes Há crimes que não se limitam a tirar vidas — também tentam assassinar a verdade. O caso de Anas Al-Sharif é disso exemplo. O jornalista palestiniano, conhecido pelo seu trabalho em Gaza, foi alvo de uma das mais cínicas e repugnantes formas de violência: a falsificação das suas palavras para justificar a sua morte. Nos dias que se seguiram ao ataque que vitimou Al-Sharif, começou a circular uma imagem de alegada publicação no seu canal de Telegram. Na mensagem, datada de 7 de outubro de 2023, ele supostamente glorificaria ataques contra israelitas, descrevendo os agressores como “heróis” e elogiando Deus pelo massacre. O conteúdo é chocante — e era precisamente essa a intenção de quem o fabricou. A análise atenta revela incoerências óbvias: erros de formatação que não existem no Telegram, ausência dessa mensagem no arquivo real do canal, e o...
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  1. Ações anunciadas por Trump O Presidente Trump declarou uma emergência de segurança pública e invocou a Secção 740 da Lei de Autonomia do Distrito de 1973, reapropriando temporariamente a polícia metropolitana de D.C. para controlo federal, com duração de 48 horas, podendo chegar a 30 dias com notificação ao Congresso NBC4 Washington The Guardian+1 . Foi anunciada a mobilização de tropas da Guarda Nacional — com cerca de 800 efectivos iniciando a ação NBC4 Washington Reuters The Guardian . Trump também ordenou a remoção imediata de pessoas em situação de sem-abrigo da cidade, com promessas vagas de realojamento "longe da capital", ao mesmo tempo em que anunciou medidas para encarcerar criminosos ABC News Reuters The Guardian . 2. Dados oficiais sobre a criminalidade em D.C. Os dados da Polícia Metropolitana revelam que, até 11 de agosto de 2025, os crimes violentos caíram 26 % , e todos os crimes caíram 7 % em relação a 2024 Reuters mpd...
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  Quando o Silêncio Mata Duas Vezes: A Morte da Informação em Gaza O ataque que vitimou cinco jornalistas da Al Jazeera em Gaza, incluindo o conceituado repórter Anas al-Sharif, foi mais do que um trágico episódio de guerra. Foi um golpe direto e deliberado à liberdade de imprensa e, por extensão, ao direito fundamental do mundo a conhecer a verdade, livre de filtros governamentais, militares ou de agendas políticas. A narrativa oficial israelita, que rotulou um dos jornalistas de "militante do Hamas", é contestada veementemente pela Al Jazeera e por organizações como o Committee to Protect Journalists, que exigem provas que, até hoje, não foram apresentadas. Este padrão é perigoso e profundamente corrosivo para qualquer democracia. O uso do rótulo de "combatente" como justificação para assassinar jornalistas é uma manobra antiga, utilizada para silenciar a reportagem no terreno e escamotear a realidade de um conflito. Em Portugal, a cobertura mediática sobre es...
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  Imigração em Portugal: Entre o discurso político e a realidade dos números Nos últimos dias, o deputado Francisco Gomes, eleito pelo CHEGA, fez declarações incisivas sobre o impacto da imigração em Portugal. Num comunicado público, responsabilizou a “imigração descontrolada” pela alegada degradação do nível de vida no país e pelo “colapso dos serviços públicos”. Mais ainda, afirmou que “a maioria dos imigrantes não contribui para a economia, mas vive de subsídios” e que apenas cerca de “300 mil imigrantes contribuem para a Segurança Social”, num universo de “perto de dois milhões” de residentes estrangeiros. Estas declarações surgem na sequência da divulgação de um estudo do Gabinete de Estudos Económicos, Empresariais e de Políticas Públicas (G3E2P) da Faculdade de Economia do Porto , que indica que o PIB per capita à paridade do poder de compra está ligeiramente sobrestimado, porque não contabiliza toda a população estrangeira residente. De facto, o estudo aponta que, com o...
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  O Presidente Vai Nu (Inspirado em “A Roupa Nova do Rei”, de Hans Christian Andersen) Era uma vez um presidente muito vaidoso chamado Donald . Tão vaidoso, que não se importava com livros, ciência ou arte — apenas com o seu reflexo nos espelhos, os elogios dos seus seguidores e a cor do seu bronzeado. Vivia numa torre dourada e tinha fatos azuis, vermelhos, brancos, com gravatas compridas até aos joelhos. Mas nunca era suficiente. Queria ser visto como o melhor presidente de todos os tempos , mesmo quando dizia disparates ou inventava coisas que nunca tinham acontecido. Um dia, apareceram dois "estilistas" muito espertos — uns tipos vindos da televisão e das redes sociais — que lhe disseram: — Senhor Presidente, podemos fazer-lhe um fato invisível especial . Só os verdadeiros patriotas, inteligentes e fiéis a si é que o conseguem ver. Todos os outros — jornalistas, cientistas, professores, democratas e leitores de jornais — não verão nada. Donald adorou a ideia. “É g...
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  06 – 08 – 1945/ 06 -08 – 2025 Hiroshima, 80 anos depois Vejo Hiroshima não como um ponto no mapa, mas como a  ferida que a geografia insiste em disfarçar . Vejo o clarão que se fez deus por um instante, e em nome dos homens, anulou tudo o que era humano. Vejo sombras gravadas no chão como assinaturas de almas arrancadas, e oiço o silêncio que ficou, mais ruidoso do que qualquer grito. Passaram oitenta anos. Oito décadas a empilhar discursos, desculpas, celebrações cínicas da “paz” que veio à força de cogumelo. Chamaram-lhe necessário. Estratégico. Chamaram-lhe fim de guerra, início da ordem. Mas nunca lhe chamaram crime. Porque quem escreve a história são sempre os que seguram a pena com uma mão e a bomba com a outra. Vejo líderes que ainda hoje falam em paz com as mãos cheias de pólvora, vejo tratados que se rasgam como papel velho ao primeiro vislumbre de lucro, vejo nações que investem mais em mísseis do que em pão. Vejo crianças que nascem sob o zumbido dos  dr...
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  Quando os números não servem o chefe: Trump e o ataque à verdade estatística Quando os números não servem o chefe: Trump e o ataque à verdade estatística A demissão da diretora do Gabinete de Estatísticas Laborais é mais do que um gesto impulsivo. É um sintoma de como o autoritarismo começa: não com tanques, mas com mentiras e intimidações. A recente demissão de Erika McEntarfer, diretora do Gabinete de Estatísticas Laborais (BLS), por ordem direta de Donald Trump, revela muito mais do que uma simples discordância sobre números de emprego. É um sinal inquietante sobre a forma como o poder político, quando desprovido de contenção institucional e respeito pelas regras do jogo democrático, tenta moldar a realidade à sua imagem. O relatório publicado em julho pelo BLS, uma agência com reputação de rigor técnico e independência, apresentou números pouco animadores: apenas 73 mil novos postos de trabalho e revisões em baixa dos dados de maio e junho. Em vez de responder com propos...
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  O Preço Invisível das Promessas August 2, 2025   /  Leave a comment   /  Edit A política é, muitas vezes, o palco onde a emoção e a razão se defrontam. Quando falamos de economia, esta dicotomia é ainda mais evidente. Nenhuma medida ilustra este conflito de forma tão clara como as  tarifas comerciais  impostas por Donald Trump. Apresentadas como uma solução heroica para proteger a indústria nacional e punir o comércio desleal, estas tarifas foram aplaudidas por muitos, mas a sua verdadeira fatura, invisível para a maioria, foi paga por quem menos podia. A retórica é poderosa. Slogans como “America First” ou a promessa de reindustrialização ressoam profundamente em comunidades que viram o seu tecido industrial desmoronar-se. É fácil culpar o exterior e acreditar que um imposto sobre produtos estrangeiros irá, magicamente, reanimar fábricas e criar empregos. A realidade, no entanto, é teimosa e implacável. Na prática, as tarifas atuaram como um...