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A mostrar mensagens de julho, 2025
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  Para Além do Óbvio O rio, as margens e a tragédia no Médio Oriente Há frases que nos perseguem, não pelo que explicam, mas pelo que desvendam. Bertolt Brecht escreveu: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.” E desde 7 de outubro de 2023, essa frase tornou-se uma espécie de eco insistente sempre que os olhos pousam sobre o que se passa em Israel e na Palestina. Nesse dia, o mundo estremeceu ao assistir a um ataque brutal do Hamas contra Israel — um ataque inegavelmente terrorista, indiscriminado, dirigido a civis, e cuja violência suscitou condenação internacional quase unânime. Foi um desses momentos em que a história parece suspender o fôlego e nos força a olhar. Mas olhar não é ver. E ver, verdadeiramente, implica olhar para além do óbvio. Sim, o ataque foi um “rio” de violência. Mas que margens o comprimiram até esse ponto? Que tensões, frustrações, injustiças e desesperos se acumularam ao longo das décadas a...
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  Enquanto animais são resgatados com urgência de Gaza e levados para abrigos na Europa, milhares de crianças palestinianas continuam cercadas, famintas e feridas — sem rota de saída nem tratamento. Julho de 2025.  No meio do ruído ensurdecedor da guerra em Gaza, há uma imagem que parece saída de um delírio humanitário: burros transportados para a Europa sob alegado tratamento de “trauma psicológico”, enquanto crianças mutiladas e famintas morrem sem assistência. Esta aparente inversão de prioridades levanta uma questão dolorosa:  o que diz de nós uma guerra em que os animais conseguem escapar, mas as crianças não?   A “operação veterinária” que retirou burros de Gaza Segundo vários relatos fidedignos,  centenas de burros foram removidos por militares israelitas de zonas invadidas na Faixa de Gaza , em articulação com o abrigo israelita  Starting Over Sanctuary  e com apoio de ONG internacionais como a  Network for Animals . As justificações ofici...
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  A recente escalada de tensões entre Israel e a Palestina tem vindo a expor, de forma brutal, uma assimetria preocupante na atenção e na condenação internacional relativamente aos direitos humanos. Enquanto o mundo se une num clamor uníssono pela libertação dos reféns israelitas, a situação de milhares de prisioneiros palestinianos, muitos deles em detenção administrativa, continua a ser uma nota de rodapé no grande palco mediático. Este contraste é, no mínimo, inquietante e levanta questões fundamentais sobre a aplicação da justiça e dos princípios humanitários. Reféns Israelitas: Uma Questão de Consenso Global Não há como negar a gravidade da captura de  251 reféns  (israelitas e estrangeiros) pelo Hamas em 7 de outubro de 2023. A sua detenção, longe de qualquer processo legal, é uma  flagrante violação do Direito Internacional Humanitário  e um crime de guerra. A condenação internacional é unânime, e com razão. A imagem de civis sequestrados violentamente, s...
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  Finalmente, o silêncio começa a ceder. Os telejornais já abrem com notícias sobre o genocídio em Gaza. Tornou-se difícil ignorar o que a internet escancarou aos olhos do mundo. Todos os limites foram ultrapassados e, a cada dia, mais países se juntam para condenar os crimes de guerra. É provável que, nos bastidores, se comece a preparar terreno para que, mais tarde, os que agora se calam possam dizer que sempre estiveram do lado certo. Nós por cá, no 25 de Abril, éramos todos revolucionários — como se o regime derrubado não tivesse tido quem, dele beneficiando, o sustentasse durante décadas. Em Israel, o mesmo se prepara. Enquanto Netanyahu não cair, a sociedade permanece dividida. Mas no dia em que cair, muitos irão apressar-se a condenar as atrocidades — e poucos, ou nenhuns, admitirão ter feito parte delas. Nesse mesmo dia, Trump andará mais perdido do que nunca. Se já não puder continuar a apoiar o invasor, talvez decida sobretaxar as tâmaras em 200% — como forma de apoio fin...
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  A política internacional tem destas ironias amargas: enquanto o Estado da Palestina é simbolicamente reconhecido por algumas capitais europeias, o território que lhe daria corpo está a ser desmantelado, ocupado, bombardeado e, em boa medida, apagado do mapa. No mesmo dia em que o Parlamento israelita aprova — ainda que simbolicamente — a anexação da Cisjordânia, o presidente Macron declara que a França está pronta para reconhecer o Estado da Palestina. A pergunta impõe-se com brutal clareza: que Estado é esse que se pretende reconhecer? A situação no terreno não engana. Gaza está devastada por meses de guerra, com milhares de mortos civis, uma crise humanitária sem precedentes e um sistema de saúde em colapso. Na Cisjordânia, colonos armados, protegidos por soldados, expulsam palestinianos das suas aldeias e terras. A violência é sistemática. A ocupação é estratégica. E a anexação — agora formalmente admitida — retira qualquer margem para a ficção diplomática de uma solução “a do...
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  O Silêncio que Vem do Veto Há silêncios que doem mais do que gritos. E há decisões que, sem uma única bala, ajudam a prolongar guerras. O poder de veto no Conselho de Segurança da ONU é uma dessas decisões. Um voto — apenas um — que pode calar o resto do mundo. Tenho pensado muito nisso, sobretudo nos últimos tempos, à medida que assistimos, impotentes, à tragédia prolongada em Gaza. Mais do que as imagens, mais do que os números, há um sentimento de bloqueio que incomoda: o mundo quer agir, mas não pode. Porque um só país vetou. O veto é, por definição, uma palavra que fecha. Não abre diálogo. Não reformula. Diz apenas “não” — e cala tudo à sua volta. Quando usado em contextos de guerra, deixa de ser uma ferramenta diplomática e torna-se uma parede entre os que sofrem e os que os poderiam ajudar. Dizem-nos que é legal. Que faz parte das regras do jogo. Que é assim desde o fim da Segunda Guerra Mundial. E é verdade. Mas também é verdade que essas regras foram feitas por ...
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  Gaza: A Fome que Não se Quer Nomear A recusa em declarar formalmente a fome em Gaza não é apenas uma falha técnica — é uma escolha política com consequências éticas profundas. A Faixa de Gaza está à beira do colapso total. Milhares de crianças desnutridas, sistemas de saúde destruídos, e bloqueios sistemáticos ao acesso a alimentos e água. As Nações Unidas têm descrito a situação como “catastrófica”. Organizações como a Save the Children , a Oxfam e a ONU Mulheres alertam, de forma repetida, para o risco iminente de fome em larga escala. Mas há uma palavra que continua ausente dos relatórios oficiais das instituições internacionais: fome . O peso de uma palavra Moncef Khane, antigo diplomata das Nações Unidas, formula com clareza a pergunta essencial: “Por que a ONU não está declarando fome em Gaza?” A resposta, segundo ele, é tão política quanto técnica: declarar formalmente a existência de fome (ou famine , no jargão institucional) implicaria obrigações jurídicas e d...
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  O Tiro no Pé de André Ventura: Quando os Nomes dos Alunos Desmentem o Discurso A recente intervenção de André Ventura no Parlamento, onde leu os nomes de alunos de uma escola de Lisboa, acompanhada da afirmação chocante "Radith? Saahas? Sayma? Nunca serão portugueses!", gerou uma onda de indignação e levantou sérias questões sobre a privacidade de menores e o discurso xenófobo. No entanto, para além da gravidade intrínseca do ato, a própria estratégia do líder do Chega parece ter-se revelado um verdadeiro "tiro no pé" argumentativo. A Contradição Exposta Pela Própria Ação O objetivo aparente de Ventura era ilustrar uma suposta "invasão" ou "substituição cultural" que estaria a ameaçar a identidade portuguesa, usando os nomes de crianças como prova visual. Contudo, ao fazê-lo, acabou por expor precisamente o oposto do que pretendia demonstrar. O simples facto de os nomes "Radith", "Saahas" e "Sayma" pertencerem...
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  O Vírus da Desinformação e a Fragilidade da Verdade A recente onda de ataques e tumultos contra imigrantes em Múrcia, Espanha, acendeu um sinal de alarme sobre como a desinformação pode transformar-se num catalisador perigoso da violência. O que começou por um incidente isolado depressa se tornou rastilho para atos xenófobos, alimentado pela proliferação de notícias falsas em redes sociais e grupos de mensagens. Espalharam-se alegações infundadas sobre a identidade dos agressores; vídeos descontextualizados inflamaram os ânimos; documentos forjados circularam como “provas”. Esta manipulação não só distorceu a realidade, como serviu de base para a organização de autênticas “caçadas” a imigrantes. É um alerta claro para a urgência de combater narrativas construídas sobre o engano. O Alarme Chega a Portugal O eco destes acontecimentos chegou até à Assembleia da República, onde a discussão sobre imigração é, por si só, um campo fértil para a polarização. Não surpreende que part...
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  ✝️ A cruz como espelho: o Ocidente e o que decide lamentar Nos últimos dias, uma imagem perfurou o véu da indiferença: duas mulheres cristãs mortas por um sniper israelita no pátio da única igreja católica de Gaza. Uma delas segurava um crucifixo. Estavam desarmadas. Refugiadas. E, até esse instante, invisíveis. A comoção foi imediata. Países que até aqui tinham falado com pinças — quando as bombas caíam sobre escolas, hospitais ou pontos de distribuição alimentar — ergueram agora a voz com firmeza: “Inaceitável” , “barbárie” , “violação do direito internacional” . Chamaram embaixadores. Exigiram explicações. Declararam-se “chocados”. Mas porquê só agora? Hierarquias da indignação Ao longo de nove meses de cerco a Gaza, a contabilidade da dor tem sido avassaladora: Crianças decapitadas por explosões, Recém-nascidos a morrer sem incubadoras, Famílias enterradas vivas sob os escombros, Trabalhadores humanitários mortos aos pares e trios. E, no entanto, durant...
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O Impacto Real das Tarifas de Trump: Populismo Político, Prejuízo Económico Nos últimos meses, o presidente Donald Trump voltou a insistir no uso de tarifas aduaneiras como instrumento político e económico. Tal como durante o seu primeiro mandato, o discurso continua a ser simples e eficaz: "a China está a pagar", "os outros abusaram da América", e "estamos a proteger os trabalhadores americanos". Mas qual é a realidade por trás deste discurso? Quem paga realmente as tarifas? Apesar da retórica de Trump, não são os países exportadores que pagam as tarifas. Quem as paga são as empresas americanas importadoras, que depois transferem esses custos para os consumidores através de aumentos de preços. Ou seja, é a população dos EUA que acaba por suportar, na prática, o impacto das medidas. Estudos económicos independentes, incluindo do FMI, do Federal Reserve e de universidades como Harvard e MIT, são unânimes: quase 100% do impacto imediato das tarifas reca...
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  🐾 Cântico à Betinha, Filha de Bastet Ó Betinha, nascida sob o sopro quente do deserto, com olhos que contêm o brilho das estrelas de Tebas, e passos que não tocam o chão — apenas o abençoam. Tu que conheces os murmúrios da casa antes mesmo de se fazerem sons, tu que dormes nos cantos onde o tempo se esquece, e guardas, com um piscar de olhos, os segredos do coração dos homens. Filha de Bastet, senhora das sete almofadas, nada em ti é comum — nem o ronronar que sara feridas invisíveis, nem o salto que ignora as leis da gravidade. Quando te espreguiças, o mundo curva-se contigo. Quando te sentas no parapeito, os deuses fazem silêncio. E quando te deitas no colo do teu guardião, abençoas-lhe a alma — sem que ele perceba, de imediato, a profundidade do milagre. Salve, Betinha, guerreira sem batalha, guardadora de afectos, mistério enrolado em pêlo e calor. Salve, Betinha, a que tudo vê e tudo perdoa… desde que o prato esteja cheio.
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  Denúncia Pública Execução filmada por drone em Gaza configura crime de guerra e exige investigação internacional https://youtube.com/shorts/aBWOeHRjfJA?si=1csVJboILZxWq2bT , Julho de 2025 Por Pedro Baptista Circula nas redes sociais e plataformas de vídeo um vídeo promocional do drone Spike Firefly , produzido pela empresa israelita Rafael Advanced Defense Systems , onde se observa o ataque letal a um indivíduo aparentemente desarmado , numa zona urbana destruída da Faixa de Gaza. O alvo, solitário, caminha numa rua deserta. O drone, controlado remotamente, fixa a vítima, acompanha os seus passos — e executa-a com precisão clínica . O vídeo termina com slogans comerciais e gráficos de desempenho, como se se tratasse de uma demonstração tecnológica isenta de implicações morais ou legais. Esta imagem não é apenas chocante — é incriminatória. Segundo o Direito Internacional Humanitário , em especial as Convenções de Genebra e o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internaci...